segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Reis Magos, Símbolos e Lagoena.






Amanhã, é Dia de Reis, na tradição católica é o dia que o menino Jesus recém-nascido recebe a vista de 3 homens sua simples manjedoura, o que acontece na passagem do dia 5 para 6 de Janeiro, por isso há quem comemore hoje também. Cada um dos magos, Baltazar, Belchior e Gaspar, oferecem um presente: ouro, incenso e mirra. Na Bíblia, os três homens (pessoas) nunca ganharam descrição, muito menos foi citado o números deles, não se sabe se eram reis ou magos, muito mais certo conjecturar que eram nômades daquela época, que vendo ali uma família em desamparo, resolveram dar auxílio ( se de fato aconteceu), daí nasceu a tradição dos Três Reis Magos.

Desde o ano passado (2014, não faz muito tempo), venho estudado e analisado arquétipos e símbolos dentro da narrativa, Carl Jung e Joseph Campbell tem me ajudado nessa tarefa,  quero entender os mitos, contos de fadas e todas as outras histórias recontadas (aqui, as versões contemporâneas) com um olhar mais profundo, descobrir o que elas tem a dizer, e finalmente descobrir o que eu tenho a dizer com Lagoena. Por instinto, sempre acreditei que Lagoena era uma "garrafa" num mar de símbolos e arquétipos, e esse mar a gente pode entender como inconsciente coletivo. 

 "[...] o arquétipo difere sensivelmente da fórmula historicamente elaborada.  Especialmente em níveis mais altos dos ensinamentos secretos, os arquétipos aparecem sob uma forma que revela seguramente a influência da elaboração consciente, a qual julga e avalia. [...] O arquétipo representa essencialmente um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta." Carl  G. Jung em Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Nesse trecho grifado, podemos entender com mais clareza e de forma sucinta o que vem a ser o arquétipo "um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização e percepção", este conteúdo é o que perdura e se modifica de acordo com a cultura "consciência individual na qual se manifesta", mas a essência é sempre ou quase a mesma. Para tanto, um estudioso em mitologia e religião comparada, Joseph Campbell, partiu dessa premissa e publicou diversos livros onde os arquétipos, símbolos e inconsciente coletivo são base, entre suas teorias, está a estrutura do monomito, ou Jornada do Herói, muito popularizada no cinema e na literatura. O que Joseph Campbell fez foi analisar e comparar arquétipos que se repetem nas mais diversos mitos em todo mundo, nas diversas culturas, elementos do inconsciente coletivo, é quase como se todos nós falássemos usando o mesmo idioma, e, para dar o ar de mistério, segredo oculto, usamos elementos diferentes, porém com significados coletivos, o chamados símbolos.

Um exemplo bem rápido disso: eu tenho uma ideia para um conto baseado numa lenda muito conhecida aqui na região, a Lenda do Rei Sebastião, uma personagem que passa pelo processo de metamorfose e vira uma fera, um touro indomável, isso me levou a pensar num conto de fadas muito conhecido e popularizado pela Disney numa animação, A Bela e a Fera. Foi mera consciência? Não. E mais, não parei por aí, saí de um mito messiânico, a vinda de um salvador, o Rei Sebastião, e fui parar na mitologia grega, em Cupido e Psique. Mesmo que cada um apresente sua forma, se formos desmembrar a estrutura de cada uma dessas três histórias, vamos encontrar pontos em comum, que não vou tecer aqui, claro, para não encher a paciência de vocês e para não perder a surpresa do conto que quero escrever. (Pensando, sinceramente, fazer uma oferenda pro Rei Sebastião pra ver se a coisa desenrola.)

Ué?  E o que os Reis Magos tem a ver com toda essa conversa e com Lagoena? Que papo zen é esse? Tomei chá de cogumelos? Hoje não. XD

"O homem utiliza a palavra escrita ou falada para se expressar o que deseja comunicar. Sua linguagem é cheia de símbolos, mas ele também, muitas vezes, faz uso de sinais ou imagens estritamente descritivos. [...] O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo imagem que pode ser familiar na vida cotidiana, embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e convencional.",  Carl G. Jung em O homem e seus símbolos. Com o exemplo que citei no parágrafo, ideias para um conto, mais a introdução sobre arquétipos, já deu para entender o que é um símbolo, né? Não? A rosa no conto A Bela e a Fera é um símbolo, a maçã no mito de Adão e Eva também, assim como a famosa maçã envenenada de A Branca de Neve. Todos símbolos! Ouro, incenso e mirra, também é um símbolo.

Ora, os elementos não estão nas histórias por mera alegoria, eles nos dizem algo e meu instinto Sherlock Holmes quer descobrir o que significam. Então, vamos lá, vamos desvendar os segredos que aquelas pessoas errantes levaram à Jesus numa madrugada entre dia 5 e 6 de Janeiro, segundo a tradição cristã. Primeiro, vamos notar que o número três está presente em várias histórias, nos contos de fadas ele tem um significado, às vezes esse número aparece como objetos ou fases do protagonista. Certo dia eu estava "matutando" sobre isso e apliquei a teoria a simbologia dos presentes dos magos. Segundo o cristianismo o ouro, faz referência a nobreza, o incenso a e a mirra, o sacrifício. Partindo da psicanálise dos contos de fadas por Bruno Bettelheim, o número 3 pode ser aplicado como a divisão do inconsciente proposta por Freud: id, ego e superego.

O id é a "camada" do inconsciente, as forças obedecem os instintos primitivos, não tem capacidade de julgamento e se comunicam com a consciência. Acho que aqui podemos encaixar o ouro, o elemento mais "bruto" e material dos 3, o ouro nos remete a nobreza e a vida carnal,  Jesus era o Rei prometido, o Messias, e claro, naquela época, os governantes ficaram com medo de perder o poder. Se enxergarmos a história por esse viés, poderemos ver a forte influência do id.

O ego existe para controlar o id, domar a força instintiva, é a parte racional do inconsciente. Sem o id o ego não desenvolve, um precisa do outro, vemos aí uma ponte, os dois lados extremos trocam força opostas. O incenso, que representa a ,  é o símbolo do elo de ligação entre Deus e o homem, o criador e a criatura. A luz do ego para as trevas impulsivas do id.

Por último, temos o superego, a moralidade, camada mais profunda do nosso mundo escondido. Nessa parte estão todos os aspectos morais da personalidade formados desde criança baseado no dogmas da sociedade em que vive. O superego é a consciência moral, [...] é, resumindo, o máximo assimilado psicologicamente pelo indivíduo do que é considerado o lado superior da vida humana, segundo Freud. Quando,  na tradição cristã,  a mirra quer dizer sacrifício, morte, na simbologia é a purificação.

É, eu viajei muito aqui, mas cheguei a essas conclusões, não sei estou certa, mas pelo menos espero estar no caminho certo. Construí a trilogia Lagoena sobre esses três pilares (id, ego e superego), por isso a história precisa ser contata em três partes, a primeira, O Portal dos Desejos,  vocês já podem conhecer através da Editora Draco. A segunda, A Feiticeira do Espelho (título provisório), está amadurecendo, comecei a escrever algo que não me agradou, parei um tempo e devo recomeçar ainda em Janeiro ( hoje o editou perguntou sobre ele..rs)

Em cada livro vou contar o trajeto da volta dos Três Tesouros Perdidos de Lagoena, essa ideia partiu de uma pergunta enquanto eu admirava um presépio e cada personagem: e se os reis fossem apenas mágicos e cada um tivesse dado um presente encantado?

 
  " Reza a lenda que os Três Tesouros foram presentes dados por três magos, vindos das bordas do Mundo Distante, ao primeiro herdeiro de Lagoena, no dia de seu nascimento, e neles concentraram seus melhores conhecimentos. [...]
    [...]Snellus foi o primeiro mago a oferecer seu presente: o Desejo, que concedia um único pedido por vez no Portal dos Desejos. [...] Em seguida, outro mago chamado Sinus ofereceu, todo vaidoso, a Sorte. [...]O último presente dado pelo terceiro mago, Riccius, foi o Segredo. "

 Trecho do capítulo 15 do livro Lagoena - O Portal dos Desejos 

Eu espero que minha imaginação me ajude nos próximos anos, porque vou precisar muito dela para descobrir o que é Lagoena. 

Será apenas uma garrafa num oceano infinito? 

Espero um dia ter certeza ou apenas doce incerteza de ser apenas submersa.

Feliz Dia de Reis! 

Até a próxima.

Laísa Couto 



2 comentários:

  1. Eita! Ou seria... Rheita? :) Confesso que me confundi um pouquinho. E não sei se sou capaz de acompanhar todas essas explicações. Mas tenho a certeza de que vou continuar amando e vibrando com a série!!

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    1. Oi, Ana,

      É um assunto meio complexo mesmo, eu até me sentia incapaz de escrever algo sobre, mas eu tive de tentar, né?
      Obrigada pela torcida e a visita!

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